sexta-feira, 30 de maio de 2014

O que é Onomatopéia?

Onomatopéia. Significa imitar um som com um fonema ou palavra. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas, o timbre da voz humana fazem parte do universo das onomatopéias. Por exemplo, para os índios tupis tak e tatak significam dar estalo ou bater e tek é o som de algo quebrando. As onomatopéias, em geral, são de entendimento universal.




BUCANEIROS – O intrépido capitão Floyd é o primeiro volume da serie. Trata-se de um romance que mistura ficção e realidade e tem como cenário o Caribe do ano de 1675. É uma aventura de bucaneiros, piratas e corsários. Retrata a aventura de um inglês que é deportado de Brighton na Inglaterra para Port Royal na Jamaica onde seria enforcado por alta traição. O navio que viajava naufraga. Do naufrágio os únicos sobreviventes são Willian Floyd e Samuel. Eles foram resgatados por um bergantim capitaneado pelo pirata capitão John Eansteman. Floyd acaba se engajando no navio pirata com o intuito de provar sua inocência e voltar para Inglaterra Não falta batalhas de galeões, lutas de espadas, estratégicas invasões de colônias, fugas espetaculares, tesouros. É uma aventura de tirar o fôlego.

Biografia de Cora Coralina:


Cora Coralina (1889-1985) nasceu na cidade de Goiás, no dia 20 de agosto de 1889. Seu nome de batismo era Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Tornou-se doceira, ofício que exerceu até os últimos dias de sua vida. Famosos eram os seus doces de abóbora e figo.Cora Coralina (1889-1985) foi uma poetisa e contiista brasileira, responsável por belos poemas. Foi elogiada por Carlos Drummond de Andrade.
Cora Coralina já escrevia poemas em 1903 e chegou a publicá-los no jornal de poemas femininos "A Rosa", em 1908. Em 1910, foi publicado o seu conto "Tragédia na Roça" no "Anuário Histórico e
Geográfico do Estado de Goiás", usando o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911, Fugiu com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas, com quem teve seis filhos. Foi convidada a participar da Semana de Arte Moderna, mas é impedida pelo seu marido.
Já em São Paulo, em 1934, trabalhou como vendedora de livros na editora José Olímpio, onde lançou seu primeiro livro, em 1965, quando tinha 76 anos, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado o livro "Meu Livro de Cordel" pela editora Goiana. Mas o interesse do grande público é despertado graças aos elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1980.
Cora Coralina recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UFG e foi eleita com o "Prêmio Juca Pato" da União Brasileira dos Escritores, como intelectual do ano de 1983.
Cora Coralina faleceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985.

                   O prato azul - pombinho




O PRATO AZUL-POMBINHO



Minha bisavó - que Deus a tenha em glória -
sempre contava e recontava
em sentidas recordações
de outros tempos
a estória de saudade
daquele prato azul-pombinho.

Era uma estória minuciosa.
Comprida, detalhada.
Sentimental.
Puxada em suspiros saudosistas
e ais presentes.
E terminava, invariavelmente,
depois do caso esmiuçado:
“- Nem gosto de lembrar disso...”
É que a estória se prendia
aos tempos idos em que vivia
minha bisavó
que fizera deles seu presente e seu futuro.

Voltando ao prato azul-pombinho
que conheci quando menina
e que deixou em mim
lembrança imperecível.
Era um prato sozinho,
último remanescente, sobrevivente,
sobra mesmo, de uma coleção,
de um aparelho antigo
de 92 peças.
Isto contava com emoção, minha bisavó,
que Deus haja.

Era um prato original,
muito grande, fora de tamanho,
um tanto oval.
Prato de centro, de antigas mesas senhoriais
de família numerosa.
De fastos de casamento e dias de batizado.

Pesado. Com duas asas por onde segurar.
Prato de bom-bocado e de mães-bentas.
De fios-de-ovos.
De receita dobrada
de grandes pudins,
recendendo a cravo,
nadando em calda.

Era, na verdade, um enlevo.
Tinha seus desenhos
em miniaturas delicadas.
Todo azul-forte,
em fundo claro
num meio-relevo.
Galhadas de árvores e flores,
estilizadas.
Um templo enfeitado de lanternas.
Figuras rotundas de entremez.
Uma ilha. Um quiosque rendilhado.
Um braço de mar.
Um pagode e um palácio chinês.
Uma ponte.
Um barco com sua coberta de seda.
Pombos sobrevoando.

Minha bisavó
traduzia com sentimento sem igual,
a lenda oriental
estampada no fundo daquele prato.
Eu era toda ouvidos.
Ouvia com os olhos, com o nariz, com a boca,
com todos os sentidos,
aquela estória da Princesinha Lui,
lá da China - muito longe de Goiás -
que tinha fugido do palácio, um dia,
com um plebeu do seu agrado
e se refugiado num quiosque muito lindo
com aquele a quem queria,
enquanto o velho mandarim - seu pai -
concertava, com outro mandarim de nobre casta,
detalhes complicados e cerimoniosos
do seu casamento com um príncipe todo-poderoso,
chamado Li.

Então, o velho mandarim,
que aparecia também no prato,
de rabicho e de quimono,
com gestos de espavento e cercado de aparato,
decretou que os criados do palácio
incendiassem o quiosque
onde se encontravam os fugitivos namorados.

E lá estavam no fundo do prato,
- oh, encanto da minha meninice! -
pintadinhos de azul,
uns atrás dos outros - atravessando a ponte,
com seus chapeuzinhos de bateia
e suas japoninhas largas,
cinco miniaturas de chinês.
Cada qual com sua tocha acesa
- na pintura -
para pôr fogo no quiosque
- da pintura.

Mas ao largo do mar alto
balouçava um barco altivo
com sua coberta de prata,
levando longe o casal fugitivo. 


Havia, como já disse,
pombos esvoaçando.
E um deles levava, numa argolinha do pé,
mensagem da boa ama,
dando aviso a sua princesa e dama,
da vingança do velho mandarim.

Os namorados então,
na calada da noite,
passaram sorrateiros para o barco,
driblando o velho, como se diz hoje.
E era aquele barco que balouçava
no mar alto da velha China,
no fundo do prato.

Eu era curiosa para saber o final da estória.
Mas o resto, por muito que pedisse,
não contava minha bisavó.
Dali para a frente a estória era omissa.
Dizia ela - que o resto não estava no prato
nem constava do relato.
Do resto, ela não sabia.
E dava o ponto final recomendado.
“- Cuidado com esse prato!
É o último de 92.”

Devo dizer - esclarecendo,
esses 92 não foram do meu tempo.
Explicava minha bisavó
que os outros - quebrados, sumidos,
talvez roubados -
traziam outros recados, outras legendas,
prebendas de um tal Confúcio
e baladas de um vate
chamado Hipeng.

Do meu tempo só foi mesmo
aquele último
que, em raros dias de cerimônia
ou festas do Divino,
figurava na mesa em grande pompa,
carregado de doces secos, variados,
muito finos,
encimados por uma coroa
alvacenta e macia
de cocadas-de-fita.

Às vezes, ia de empréstimo
à casa da boa tia Nhorita.
E era certo no centro da mesa
de aniversário, com sua montanha
de empadas, bem tostadas.
No dia seguinte, voltava,
conduzido por um portador
que era sempre o Abdênago, preto de valor,
de alta e mútua confiança.

Voltava com muito-obrigados
e, melhor - cheinho
de doces e salgados.
Tornava a relíquia para o relicário
que no caso era um grande e velho armário,
alto e bem fechado.
- “Cuidado com o prato azul-pombinho” -
dizia minha bisavó,
cada vez que o punha de lado.

Um dia, por azar,
sem se saber, sem se esperar,
antes do salta-caminho,
partes do capeta,
fora de seu lugar, apareceu quebrado,
feito em pedaços - sim senhor -
o prato azul-pombinho.
Foi um espanto. Um torvelinho.
Exclamações. Histeria coletiva.
Um deus-nos-acuda. Um rebuliço.
Quem foi, quem não foi?...

O pessoal da casa se assanhava.
Cada qual jurava por si.
Achava seus bons álibis.
Punia pelos outros.
Se defendia com energia.
Minha bisavó teve “aquela coisa”.
(Ela sempre tinha “aquela coisa” em casos tais.)
Sobreveio o flato.
Arrotando alto, por fim, até chorou...

Eu (emocionada) vendo o pranto de minha bisavó,
lembrando só
da princesinha Lui -
que já tinha passado a viver no meu inconsciente
como ser presente,
comecei a chorar
- que chorona sempre fui.

Foi o bastante para ser apontada e acusada
de ter quebrado o prato.
Chorei mais alto, na maior tristeza,
comprometendo qualquer tentativa de defesa.
De nada valeu minha fraca negativa.
Fez-se o levantamento de minha vida pregressa
de menina
e a revisão de uns tantos processos arquivados.
Tinha já quebrado - em tempos alternados,
três pratos, uma compoteira de estimação,
uma tigela, vários pires e a tampa de uma terrina.

Meus antecedentes, até,
não eram muito bons.
Com relação a coisas quebradas
nada me abonava.
E o processo se fez, pois, à revelia da ré,
e com esta agravante:
tinha colado no meu ser magricela, de menina,
vários vocativos
adesivos, pejorativos:
inzoneira, buliçosa e malina.

Por indução e conclusão,
era eu mesma que tinha quebrado o prato azul-pombinho.

Reuniu-se o conselho de família
e veio a condenação à moda do tempo:
uma boa tunda de chineladas.

Aí ponderou minha bisavó
umas tantas atenuantes a meu favor.
E o castigo foi comutado
para outro, bem lembrado, que melhor servisse a todos
de escarmento e de lição:
trazer no pescoço por tempo indeterminado,
amarrado de um cordão,
um caco do prato quebrado.

O dito, melhor feito.
Logo se torceu no fuso
um cordão de novelão.
Encerado foi. Amarrou-se a ele um caco, de bom jeito,
em forma de meia-lua.
E a modo de colar, foi posto em seu lugar,
isto é, no meu pescoço.
Ainda mais
agravada a penalidade:
proibição de chegar na porta da rua.
Era assim, antigamente.

Dizia-se aquele, um castigo atinente,
de ótima procedência. Boa coerência.
Exemplar e de alta moral.

Chorei sozinha minhas mágoas de criança.
Depois me acostumei com aquilo.
No fim, até brincava com o caco pendurado.
E foi assim que guardei
no armarinho da memória, bem guardado,
e posso contar aos meus leitores,
direitinho,
a estória, tão singela,
do prato azul-pombinho.

Nota

De como acabou, em Goiás,
o castigo dos cacos quebrados no pescoço

Foi com a morte da menina Jesuína. Era minha bisavó quem contava. Eu era pequena, ouvia e chorava. Me parecia eu mesma, a pequena da estória.
Havia na cidade, contemporânea de minha bisavó, uma tal de D. Jesuína, senhora apatacada, dona de Teres-Haveres. Sempre encontrada nos velórios, muito solidária com a morte e com os vivos, ali permanecia invariavelmente até que os galos amiudassem. Tinha seus escravos de serviço e de aluguel, entre estes a escrava de dentro, de nome Prudência. Está no completo. Nas medidas exigentes do tempo. Sem preço. Deu a sua Sinhá vários crioulos de valor que mais enricaram a velha dona. No fim veio aquela que tomaria nome de Rola, afilhada e alforriada na Pia, o que era legal e usado no tempo. Rola teve casamento de capela fechada dizendo sua condição de moça-virgem.
Não tardou muito por essas e tais razões e sofismas, a se representar hética. Diziam: gálico do marido. Certo que depois de várias vomitações de sangue (hemoptises) que a levaram, deixou no mundo uma menina que a madrinha batizou também com seu próprio nome-Jesuína. A pequena, um fiapo de gente, veio para os braços da avó, trazida pela Sinhá Madrinha. Filha de mãe hética, débil, franzina, foi espigando devagarinho, imperceptivelmente, mamando no seio fecundo da negra avó que fez renascer o seu veio de leite por amor à neta. Certo, ia vivendo e crescendo dentro das regras do tempo velho. Nem escrava, nem forra. Meio a meio em boa disciplina.
Não era má, D. Jesuína, antes de boa justiça, madurona, severa, experiente.

Jesuína encostou-se afinal nos dez anos. Magrinha, grandes olhos de espanto para a vida. Medrosa, obediente, agarrada a sua regalia uma boneca de pano que a madrinha teve a bondade de consentir.
Em qualquer pequena falta, a ameaça: “olha que eu tomo a boneca...” A menina apertava a bruxa no peito magro e se espiritava.
Tinha algumas obrigações. Varria a casa, apanhava o cisco. Lavava umas tantas peças de louça e aprendia a ler. Tinha, nas vagas, sua carta de ABC, sentadinha no canto, tomando propósito.
Dormia numa esteirinha nos pés da grande marquesa de sobrecéu armado, da madrinha. Velhos pedaços de forro eram a coberta.
A obrigação: de pela manhã descerrar os tampos da janela, apagar a lamparina de azeite, chegar as chinelas nos pés reumáticos da madrinha, apresentar o urinol para os alívios da velha. Regra certa, imutável, consolidada, sem variação. Um chamado - Jesuína, a menina de pé, pedindo a bênção, praticando a obediência.

Aconteceu que um dia a tampa da terrina escapuliu das mãos da menina e escacou. Foi um escarcéu. Dona Jesuína estremeceu em severidades visíveis, e se conteve: “ que não fizesse outra...”
Teria contudo de ser castigada, exemplada: um colar de cacos quebrados no pescoço e a bruxa consumida. Proibido chorar. Assim era e assim foi. Coisas do tempo velho. A cacaria serrilhada, amarrada a espaço num cordão encerado, ficava como humilhante castigo exemplar, de que todos se riam até que num longínquo dia-santo alguém se lembrasse de punir por aquela retirada.
No caso da menina continuava. Dormia e acordava com seu colar de pedaços desiguais e serrilhados de jeito a permanência. Tinha nas casas gente afeita a essas artes, elaboravam com simetria e gosto maldoso. Naqueles tempos refastados, qualquer castigo agradava e eram agravados com motes de aprovação convincentes.
Aconteceu que, naquela noite, D. Jesuína foi acordada com uns resmungos, gemidos, quase, vindos da esteirinha. Ralhou: “aquieta, muleca, deixa a gente durmi...”
Tudo aquietou e a noite continuou seu giro no espaço e no tempo. Na alcova, o círculo amarelo da velha lamparina de azeite. Os quadros de santos imóveis nas paredes. Depois novo resmungo, uns gemidinhos, coisa de menor.
De novo, a velha da sua alta marquesa: “vira de banda menina, isso é pisadeira, não vai mijá na esteira...”
O silêncio se fez. A velha voltou ao sono, acordou nas horas. “Jesuína, Jesuína.” Nada de resposta. Comentou: “pois é, enche o bucho, vem pisadeira, não deixa durmi, e de manhã ferra no sono”.
A lamparina, sua luz escassa e amarelada em meia claridade. D. Jesuína desceu as pernas, os pés deram num molhado visguento e frio. - “Pois é enche a barriga e ainda suja na esteira...” Jesuína gritou forte. No silêncio da alcova os santos veneráveis, frios, hieráticos. A velha abriu a janela num repelão.
Abaixou, sacudiu a menina. Recuou. A criança estava fria, endurecida e morta. A esteirinha encharcada. Durante a noite, no sono, uma aresta mais viva de um dos cacos serrilhados tinha cortado uma veiazinha do seu pescoço, e por ali tinha no correr da noite esvaído seu pouco sangue e ela estava enrodilhada, imobilizada para sempre.
A notícia correu. As amigas de D. Jesu vieram e deram pêsames, justificando: foi a mãe que veio buscar a filha.
Foi assim, com o sacrifício da menina Jesuína, desaparecendo em Goiás o castigo exemplar do colar de cacos quebrados no pescoço. Quando chegou a minha vez já era só um caco.
No meu sono de criança, tinha a sensação de uma sombra debruçada sobre mim. Era minha bisavó ajeitando o caco, tirando para fora da coberta.
Não fosse acontecer com Aninha o que acontecera com a menina Jesuína, cria da D. Jesu. 

                                         Fiapo de trapo


Espantalho mais bonito e elegante nunca se tinha visto por aquelas redondezas. Nem por outras, 
que ele era mesmo carregado de belezas. Precisava só ouvir a conversinha do Dito Ferreira enquanto 
montava o espantalho, todo orgulhoso do seu trabalho: 
 - Nunca vi coisa igual. O patrão caprichou de verdade. Vai botar no campo um espantalho com 
roupa de gente ir à festa na cidade. 
 E era mesmo. Tudo roupa velha, claro, como, convém a um espantalho que se preza. Mas da 
melhor qualidade, roupa de se ir à igreja em dia de procissão e reza. 
 Dito Ferreira mostrava todo prosa: 
 - Esse chapéu é de um tal de veludo. E vejam que beleza essa camisa cor-de-rosa. 
 Tem até coração bordado... O patrãozinho pensou em tudo. Com uma gravata de seda, fez esse 
cinto estampado. Até a palha do recheio é toda macia e cheirosa. 
Não é que era mesmo, a danada? Tinha um perfume forte, que ajudava a espantar a passarada. 
Ah, porque é preciso também dizer que aquilo tudo dava certo, funcionava tanto... O espantalho 
elegante era mesmo um espanto. Passarinho nem chegava perto. E lá ficava sozinho, espetado no 
milharal deserto. 
O patrão ficava feliz com um defensor tão eficiente. Dito Ferreira se alegrava com aquela figura 
imponente. Que espantalho diferente! Só que eles nem sabiam que diferença era essa. 
Como todo espantalho, esse não andava nem falava, mas tinha o dom de poder sentir as coisas 
ao seu jeito  –  para um boneco de palha, isso era um grande defeito. 
E era só por causa do desenho que tinha bordado no peito. Linhas de cor em forma de coração – 
e pronto, lá estava o pobre espantalho sofrendo com a solidão! Ninguém se aproximava dele, ninguém 
fazia um carinho, e ele ficava tão triste, só, espantando passarinho... 
De longe via uma passarada, de todo tipo e feição. Pintassilgo e saíra, cambaxirra e corruíra, 
rolinha e corrupião. Pássaro de toda cor, de todo canto e tamanho, de todo a-e-i-o-u - sabiá, tié, bem-tevi, curió e nhombu. Vontade de chamar: 
Vem cá me ver, bem-te-vi! 
Vontade de mostrar: 
Tico-tico, olha lá o teco-teco! 
Mas não adiantava, ninguém chegava perto. 
E o tempo passava. Horas e dias, dias e semanas, semanas e meses, meses e anos. 
E o espantalho ficava no tempo. No bom tempo e no mau tempo. No sol  que queimava e na 
chuva que molhava. No mormaço que fervia e no vento que zunia. 
E seu cheiro se gastava, sua cor se desbotava, sua seda desfiava, seu veludo se puía. 
Até que um dia... 
No tempo tem sempre um dia. Um dia em que muda o tempo e um tempo novo se inicia. 
Pois foi o que aconteceu. Houve um dia em que choveu. Mas não foi chuva miúda, foi pra valer, 
de verdade, foi mesmo um deus-nos-acuda, uma imensa tempestade, de granizo, raio, vendaval, com 
aguaceiro e temporal, chuva de muito trovão que virou inundação. 
Quando a chuvarada passou e o sol voltou, um arco-íris no céu se formou. E na beleza do dia 
novo, azul lavado, vieram os pássaros, em bando assanhado, ocupando todo o campo, ciscando no 
milharal. Livres, soltos, à vontade, numa alegria sem igual. 
Foi aí que Dito Ferreira reparou: 
Cadê o espantalho velho? 
Saiu todo mundo procurando. Não acharam.  Nem podiam  achar.  Ele  tinha desmanchado, tinha 
sido carregado, pelo vento espalhado, pela chuva semeado, com a terra misturado, plantado naquele 
chão, sua palha adubando muito pé de solidão. 
Do que sobrou por aí, foi tudo virando ninho, protegendo com carinho filhotes que iam nascer. 
Veludo em trapos, seda em farrapos, coração bordado em fiapos, maciezas boas de se esquecer. 
E hoje em dia, sua palha misturada na terra ajuda a plantação a crescer. 
Os trapos de sua seda, o seu forro de bom cheiro, farrapos de seu veludo se espalhavam desde 
o galinheiro até a mais alta árvore que tenha um ninho barbudo. E em cada ovo que nasce ali por aquele 
lugar, cada ninhada que se achega à procura de calor, em cada vida a brotar, em cada marca de amor, 
seu coração sobrevive num fiapinho de cor.

                                      Candido portinari


Cândido Portinari (Brodowski29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro6 de fevereiro de 1962) foi um artista plástico brasileiro. Portinari pintou quase cinco mil obras de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão, como O Lavrador de Café, até gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956,1 e que, em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Portinari é considerado um dos artistas mais prestigiados do Brasil e foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.


quinta-feira, 29 de maio de 2014

Tudo sobre Maurits Cornelis Escher

                                   Maurits Cornelis Escher


                      Maurits Cornelis Escher (Leeuwarden17 de Junho de 1898 — Hilversum27 de Março de 1972) foi um artista gráfico holandês conhecido pelas suas xilogravuraslitografias e meios-tons (mezzotints), que tendem a representar construções impossíveis, preenchimento regular do plano, explorações do infinito e as metamorfoses - padrões geométrico entrecruzados que se transformam gradualmente para formas completamente diferentes. . Ele também era conhecido pela execução de transformações geométricas (isometrias) nas suas obras.